A história da agricultora que inspirou várias outras mulheres a lutar por conquistas no campo
Agricultora familiar, líder camponesa e sindicalista, Margarida Maria Alves foi uma das primeiras mulheres a se destacar pela luta no campo no Brasil e por mais direitos e conquistas de gênero
Há exatos 41 anos, na Paraíba, foi assassinada a agricultora familiar, líder camponesa e sindicalista Margarida Maria Alves, uma das primeiras mulheres a se destacar pela luta no campo brasileiro por mais direitos e conquistas. Meses antes de ser assassinada, conforme registros da imprensa e de pesquisadores da Universidade Federal da Paraíba (UFPE), Margarida Maria Alves afirmou, durante um discurso: “É melhor morrer na luta do que morrer de fome”.
Liderança querida e influente na região, que atuava por direitos como carteira de trabalho assinada, jornada de oito horas, férias e 13º salário para os camponeses, ela era vista como uma ameaça para muitos agricultores e usineiros. Desde o ano passado, ela integra o Livro dos Heróis e Heroínas da Pátria e é por sua causa que a Marcha das Margaridas leva este nome.
Margarida nasceu em agosto de 1933, em meio à diversidade do homem do campo. Faleceu poucos dias após completar 50 anos. Atuou por 12 anos como presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Alagoa Grande (PB).
Lutou também contra a violência no campo e pela reforma agrária. Chegou a fundar, no seu estado, com o educador Paulo Freire, o Centro de Educação e Cultura do Trabalhador Rural. Até que um tiro de espingarda no rosto ceifou sua vida. Ela estava com a família, na porta de casa.
Símbolo de inspiração
O crime provocou revolta no país e seu nome passou a ser símbolo de luta e inspiração para outras mulheres. “Ela não ficou famosa apenas pela personalidade guerreira. Também vivenciou importantes transições na igreja e no movimento sindical. Além da transição de deixar de ser uma mulher dona de casa, trabalhadora do campo, para ser uma mulher do espaço público político”, afirmou a historiadora paraibana Ana Paula Romão, em livro que relata a biografia de Margarida.
“Margarida Maria Alves vive em cada uma. Ela tem nos inspirado a continuar lutando, defendendo os nossos direitos e enfrentando todos esses desafios que temos no dia a dia”, afirma Mazé Morais, que coordenou a Marcha das Margaridas no ano passado.
O senador Paulo Paim (PT-RS), relator da proposta que resultou na inclusão de Margarida entre os heróis da pátria, destacou que o nome dela, como os de Tiradentes, Zumbi dos Palmares e Santos Dumont, é importante “para que mulheres e meninas, em especial da zona rural, possam se reconhecer na sua história”.